O Brasil apresentará um novo plano para adaptar o setor de saúde às mudanças climáticas durante a COP30, evento que ocorre em Belém. Este plano inclui diversas medidas práticas, como a reorganização dos horários de atendimento médico, a definição de escalas de descanso para os profissionais e ajustes nas dosagens de medicamentos em períodos de calor intenso.
A epidemiologista Ethel Maciel, que representa o Brasil na conferência, destacou a necessidade de mudanças nos serviços de saúde diante do aumento das ondas de calor. “Se sair à rua entre meio-dia e quatro da tarde se tornar arriscado, não podemos manter os mesmos horários”, afirmou ela.
O plano, denominado Plano de Ação para a Saúde de Belém, foi desenvolvido em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e baseia-se em três principais eixos: fortalecimento da vigilância e monitoramento, preparação dos serviços e profissionais de saúde, e inovação sustentável na produção de bens e serviços de saúde.
O primeiro eixo propõe a criação de uma vigilância climática integrada. Este sistema vai combinar dados ambientais com informações de saúde para antecipar riscos relacionados a ondas de calor, poluição, mudanças na qualidade da água e a proliferação de doenças transmitidas por vetores. “Até o ano passado, não tínhamos um painel que relacionasse a poluição do ar aos indicadores de saúde. Agora, conseguimos isso, e a mudança é significativa”, explicou Ethel.
O segundo eixo visa preparar os serviços de saúde para enfrentar condições extremas. Ela ressaltou que, até agora, os currículos de cursos de medicina e enfermagem têm abordado pouco as questões climáticas. Em 2024, o Ministério da Saúde lançou seu primeiro protocolo sobre clima e saúde. O plano inclui a capacitação das equipes de saúde, a garantia de infraestrutura adequada e a criação de protocolos de resposta rápida para emergências.
O terceiro eixo propõe uma revisão da cadeia produtiva do setor saúde, que é uma das áreas mais poluentes do mundo. Ethel apontou que a saúde consome muito plástico, gera resíduos e demanda energia. “Precisamos repensar nossos processos e incentivar o uso de energias renováveis”, afirmou. Algumas das ações propostas incluem o desenvolvimento de medicamentos que tolerem melhor variações de temperatura e a reavaliação das embalagens plásticas utilizadas.
O programa Adapta-SUS, uma versão nacional deste plano, pretende incluir essas iniciativas no orçamento de estados e municípios. Ethel sublinhou a importância de integrar as redes pública e privada para planejar rotas de evacuação e garantir estoques de medicamentos e protocolos de crise. “Estamos trabalhando para garantir nossa capacidade de cuidar das pessoas em um planeta que enfrenta aquecimento contínuo”, concluiu.