A ciência das fake news e seu impacto na sociedade

As plataformas da internet se tornaram os principais meios de propagação de notícias falsas. Criar um site que pareça uma fonte de notícias profissional é fácil e barato. Além disso, é simples ganhar dinheiro com anúncios online e compartilhamento nas redes sociais. A internet não apenas possibilita a publicação de informações enganosas, mas também tem ferramentas para aumentar sua divulgação.

Nos Estados Unidos, aproximadamente 47% da população costuma buscar notícias nas redes sociais, sendo o Facebook a plataforma mais popular. As redes sociais são canais essenciais para a disseminação de notícias falsas. Um exemplo disso foi a manipulação por parte da Rússia nas principais plataformas durante as eleições de 2016 nos EUA.

Como podemos usar a internet e as redes sociais para limitar a propagação de notícias falsas? Plataformas como Google, Facebook e Twitter não só mediam nossa interação com a mídia, mas também nossa comunicação com amigos e familiares. O modelo de negócios dessas redes foca em monetizar a atenção dos usuários por meio de anúncios. Elas utilizam modelos estatísticos complexos para prever e aumentar o engajamento, mas esses modelos podem ser ajustados para priorizar informações de qualidade.

Essas plataformas poderiam informar os consumidores sobre a qualidade das fontes de notícias, incorporando essas informações em seus algoritmos. Além disso, poderiam reduzir a personalização das notícias políticas, para evitar a criação de “câmaras de eco”. Recursos que mostram quais conteúdos estão em alta deveriam descartar a influência de bots, que são contas automáticas que espalham informações. De forma geral, as plataformas poderiam limitar a divulgação automática de notícias, embora, no futuro, os criadores dessas ferramentas possam desenvolver maneiras de driblar essas limitações.

As plataformas já tentaram algumas dessas abordagens. O Facebook anunciou mudanças em seu algoritmo para considerar a “qualidade” do conteúdo nas suas recomendações. O Twitter também bloqueou contas ligadas a desinformações e alertou os usuários que poderiam ter sido enganados. Contudo, faltam detalhes e avaliações que permitam à comunidade científica analisar esses esforços. Isso dificulta o uso dessas informações por formuladores de políticas ou pelo público.

Por isso, é importante que as plataformas busquem colaboração com pesquisadores independentes. Isso ajudaria a entender melhor a questão das notícias falsas e como as intervenções estão funcionando. Hoje, poucas pesquisas se concentram em notícias falsas e não existe um sistema robusto de coleta de dados sobre como essas informações estão sendo disseminadas. Importante lembrar que não dá para recriar o Google de 2010, pois as interações entre código, conteúdo e usuários são complexas. Entretanto, é possível registrar a atuação do Google em 2018 e fazer auditorias contínuas sobre como as plataformas filtram informações.

Ao mesmo tempo, existem desafios nessa colaboração entre o mundo acadêmico e a indústria. No entanto, as plataformas têm a responsabilidade ética de contribuir com dados que só elas podem fornecer para o entendimento do fenômeno das notícias falsas.

Uma alternativa à regulamentação direta seria permitir ações judiciais por difamação, visando responsabilizar quem é prejudicado por essas informações. Se uma plataforma facilita a disseminação de uma história claramente falsa, ela poderia ser responsabilizada. Porém, a legislação atual nos EUA, especificamente a Lei de Decência nas Comunicações de 1996, protege as plataformas de responsabilização em casos de declarações falsas feitas por terceiros. Qualquer mudança nessa legislação levantaria questões sobre até onde o conteúdo das plataformas e as decisões de curadoria poderiam ser contestadas.

Intervenções estruturais levantam preocupações legítimas sobre a liberdade individual e a iniciativa privada. Assim como as empresas de mídia do século XX influenciaram a informação à qual as pessoas tinham acesso, hoje, as grandes empresas da internet desempenham um papel ainda mais relevante na experiência humana. As questões que surgem são sobre como esses enormes poderes estão atuando e como é possível responsabilizar essas corporações gigantes.

Ainda há um longo caminho a percorrer para lidar com a questão das notícias falsas. A colaboração entre plataformas e pesquisadores, assim como a criação de mecanismos que incentivem a qualidade das informações, é essencial. Falar sobre esses desafios é uma forma importante de começar a compreender o impacto das redes sociais em nossa sociedade. O objetivo é criar um ambiente mais saudável e responsável na difusão de notícias, ajudando a sociedade a se proteger contra as armadilhas da desinformação.

Os usuários também têm um papel fundamental. Sempre que acessarem uma informação, é crucial que verifiquem a fonte e procurem opiniões de diferentes especialistas. Com a ajuda das plataformas, é possível criar um espaço digital mais seguro. Portanto, é importante que todos estejam atentos e façam a sua parte nesse processo.

Falar sobre notícias falsas não é só responsabilidade das empresas de tecnologia. Todos nós, como consumidores de informação, temos a obrigação de sermos críticos e questionadores. Ao fazer isso, podemos contribuir para um ambiente onde as informações corretas sejam valorizadas e as notícias falsas tenham menos espaço para se espalhar.

Nesse contexto, devemos nos lembrar sempre da importância da educação midiática. Quanto melhor informados estivermos sobre como as informações são criadas e compartilhadas, mais fáceis serão as escolhas que fazemos. Nossa habilidade de discernir o que é verdadeiro do que é falso pode ser um poderoso aliado na luta contra a desinformação, ajudando a construir um futuro mais esclarecido.

A batalha contra as fake news depende de ações coletivas, envolvendo tanto as plataformas quanto os indivíduos. Precisamos continuar a discussão sobre como as grandes empresas de tecnologia devem agir e como todos podem contribuir para um ecossistema de informação mais seguro e responsável. Com união e conscientização, poderemos enfrentar esses desafios e promover uma sociedade mais bem informada.