Estudo em animais mostra eficácia de medicamento contra Alzheimer

Título: Nova Medicação NU-9 Mostra Promessa no Tratamento de Doenças Neurodegenerativas

A medicação experimental NU-9, que já foi aprovada pela FDA (Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA) para testes clínicos na esclerose lateral amiotrófica (ELA), demonstrou melhorias na saúde neuronal em modelos animais de doença de Alzheimer. Essa descoberta vem de uma pesquisa realizada na Universidade Northwestern.

Assim como a ELA, a doença de Alzheimer também é causada por proteínas mal dobradas que afetam a saúde do cérebro. Em vez de tratar apenas os sintomas, o NU-9 trabalha para corrigir os mecanismos que causam essas doenças. Os resultados do estudo geram expectativa de que o remédio possa ser eficaz em diversas doenças neurodegenerativas que têm causas semelhantes.

“Esse remédio é bem impressionante por agir em diferentes sistemas,” afirmou Richard B. Silverman, inventor do NU-9. “Precisamos testar em humanos para saber como ele funciona no tratamento de Alzheimer. Mas como as células motoras superiores em camundongos funcionam de maneira similar às de humanos, parece que o NU-9 realmente pode funcionar.”

A pesquisa foi publicada no início do mês passado e mostra a eficácia do remédio em culturas celulares e em um pequeno estudo com camundongos. William Klein, coautor do estudo, disse: “O que nosso estudo mostra é que o mesmo mecanismo afeta duas proteínas diferentes em doenças diferentes. Ambas têm acúmulo de proteínas tóxicas que prejudicam as células.”

Silverman, que também foi responsável por desenvolver o pregabalina (Lyrica) para tratar fibromialgia e dor neuropática, é professor de Química na Universidade Northwestern e fundador da Akava Therapeutics, empresa que está comercializando o NU-9. Klein, que é respeitado na área de Alzheimer, é professor de neurobiologia na mesma instituição e cofundador da Acumen Pharmaceuticals.

Nas doenças neurodegenerativas, as proteínas mal dobradas se aglomeram nas células do cérebro. Essa acumulação causa toxicidade e prejudica a função normal do cérebro, levando à morte celular. Enquanto proteínas SOD1 danificadas causam a ELA, os oligômeros de beta-amiloide estão ligados à doença de Alzheimer.

“São proteínas boas, mas que se tornaram ruins,” disse Klein. “Quando ficam aglomeradas, elas contribuem para seu próprio acúmulo. Elas grudam nas células vizinhas e nas sinapses, causando disfunção cerebral e, eventualmente, morte celular.”

Em estudos anteriores, Silverman e sua colaboradora de longa data, P. Hande Ozdinler, descobriram que o NU-9 ajudava a remover esses aglomerados de proteínas em modelos animais de ELA. Motivados pelo sucesso, Silverman e Klein queriam investigar se o NU-9 poderia ter um efeito similar na doença de Alzheimer.

Para isso, a equipe começou com culturas de neurônios de um modelo animal pequeno. Em um dos experimentos, os cientistas adicionaram uma forma de beta-amiloide às células. Esses oligômeros se formaram rapidamente e grudaram nas células. Em outro teste, o NU-9 foi adicionado antes da beta-amiloide, reduzindo o acúmulo de proteínas nas células e em seus dendritos. O efeito protetor do NU-9 permaneceu mesmo após sua remoção.

Após comprovar o sucesso nas culturas celulares, a equipe testou o NU-9 em um modelo animal completo. Eles deram uma dose oral de NU-9 a camundongos com Alzheimer e notaram uma melhora no desempenho em testes de memória. Estudos adicionais mostraram que o NU-9 reduz a inflamação cerebral associada à doença.

“Klein revelou que a inflamação no cérebro foi prevenida ou muito reduzida pelo NU-9. Ele impede o acúmulo de beta-amiloide e suas consequências inflamatórias, que causam grandes danos. Portanto, o remédio se mostra poderoso em dois níveis: celular e animal completo.”

Apesar dos resultados promissores, os pesquisadores ainda tentam entender completamente como o NU-9 funciona. Eles descobriram que o medicamento impede especificamente o acúmulo de oligômeros de beta-amiloide dentro das células, mas não fora delas. Isso sugere que o NU-9 atua em um processo interno nas células para evitar a formação de grupos prejudiciais.

Com análises adicionais, a equipe constatou que o NU-9 depende dos lisossomos, que são centros de reciclagem nas células, e da enzima cathepsina B. Na doença de Alzheimer, esse sistema se desregula, causando acúmulo de beta-amiloide. O NU-9 pode ajudar a transportar essas proteínas para os lisossomos, onde a cathepsina B colabora para quebrar os aglomerados.

“Os lisossomos e os proteassomos coletam materiais que não são úteis e os eliminam,” explica Silverman. “Descobrimos que o proteassoma não é envolvido, é o lisossomo que desempenha um papel nesse processo. Mas ainda estamos tentando entender exatamente a que o NU-9 se liga para ativar o lisossomo.”

Klein complementa dizendo que é “um fenômeno de caixa-preta.” “É como uma corrida de revezamento para mover essas proteínas tóxicas pela célula. Elas precisam ser transferidas de um vesículo a outro até chegarem ao lisossomo. Acreditamos que o NU-9 atinge algo nessa primeira fase, mas não sabemos exatamente qual é o alvo.”

Embora as descobertas sejam animadoras, os pesquisadores ressaltam que ainda há muito a ser feito. Klein destaca a necessidade de mais testes rigorosos de memória nos modelos animais. Silverman planeja aperfeiçoar o composto para aumentar sua eficácia.

A equipe também pretende avaliar a eficácia do NU-9 em outras doenças neurodegenerativas, como o Parkinson e a doença de Huntington. “Acreditava-se há tempos que cada doença neurodegenerativa era totalmente diferente, mas nossas descobertas sugerem que mecanismos comuns podem conectá-las,” disse Silverman. “Essa descoberta abre portas para uma nova família de compostos terapêuticos que, como o NU-9, podem atuar em várias doenças antes que ocorram danos significativos nas células.”

Com esse estudo, fica evidente que o NU-9 traz novas esperanças no tratamento de doenças complexas como Alzheimer, ELA, Parkinson e Huntington, podendo mudar a abordagem das terapias futuras. As expectativas são altas, mas a ciência ainda deve aprofundar a pesquisa para garantir resultados concretos.