Saúde e Atendimento à Comunidade LGBT+ no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul, a luta por um atendimento de saúde digno e respeitoso à comunidade LGBT+ continua. Muitas pessoas dessa comunidade ainda enfrentam preconceitos e a necessidade de justificar sua existência durante consultas médicas. Para combater essa realidade, serviços públicos especializados estão sendo implementados para assegurar um atendimento de qualidade, onde identidade de gênero e orientação sexual são reconhecidas e respeitadas.
Serviços Disponíveis
O estado dispõe de pelo menos 24 locais que oferecem cuidados de saúde para a população LGBT+ por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), espalhados por 16 municípios. Esses serviços vão desde acolhimento psicológico até terapia hormonal e cirurgias de afirmação de gênero.
Ambulatórios Específicos
Os ambulatórios destinados à população trans, travestis e pessoas não binárias são uma parte essencial deste sistema. Em Porto Alegre, dois dos principais ambulatórios estão localizados no Centro de Saúde Santa Marta e na Clínica da Família Álvaro Difini, na Restinga.
A enfermeira Lúcia Souto, que coordena um dos ambulatórios, destaca que o espaço foi criado em 2019, devido à alta demanda por atendimento especializado. Desde então, o serviço se expandiu e passou a contar com uma equipe fixa de profissionais qualificados.
Um usuário, Nicolas Stivelman do Nascimento, compartilha sua experiência positiva no ambulatório, que ele buscou após uma consulta frustrante em um consultório particular. “Migrar para o ambulatório me proporcionou um tratamento muito diferente”, conta ele.
Atualmente, o ambulatório atende cerca de 30 novos pacientes por mês, com mais de 2.184 pessoas cadastradas na cidade. Os atendimentos são feitos por uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, psicólogos e enfermeiros. Embora o serviço seja acessível, é recomendado que o encaminhamento seja feito pela unidade de saúde onde a pessoa já é atendida.
Projetos de Inclusão e Capacitação
Além do atendimento clínico, o ambulatório oferece diversas iniciativas, como fonoaudiologia para adaptação da voz e atividades artísticas por meio do Projeto Geringonça, desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Assim, busca-se também ajudar as pessoas a se inserirem no mercado de trabalho, enfrentando os desafios que surgem em diversas áreas da vida.
Acesso às Terapias Hormonais
Elias, um jovem de 20 anos que frequenta o ambulatório, relata que sua experiência foi tranquila e muito mais acessível do que em outros lugares. “Aqui foi o lugar mais tranquilo para conseguir atendimento”, afirma. No entanto, ele menciona que, em comparação a outros estados, o acesso a ambulatórios é limitado e pode haver a necessidade de recorrer a consultas particulares.
Apesar do atendimento adequado em alguns locais, a burocracia ainda é um desafio. Nicolas, por exemplo, teve que esperar meses entre consultas, evidenciando as dificuldades do sistema.
A terapia hormonal, que pode ser essencial para muitas pessoas em transição, ainda enfrenta questões como a automedicação e a falta de informações adequadas. A coordenadora do ambulatório, Lúcia Souto, menciona a recente resolução do Conselho Federal de Medicina, que restringiu o acesso a terapias hormonais para pessoas menores de 18 anos, ressaltando a necessidade de mudanças.
Serviço de Cirurgia de Afirmação de Gênero
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre também se destaca como referência nacional nesse contexto. Com um programa pioneiro em cirurgias de afirmação de gênero, a instituição oferece procedimentos de qualidade, embora o tempo de espera para as cirurgias possa ultrapassar dois anos.
Desde sua criação em 1998, o programa já avaliou cerca de mil casos e realizou em torno de 350 cirurgias. O processo envolve um acompanhamento longo, frequentemente exigindo que os pacientes aguardem mais de um ano.
A coordenadora do programa, Maria Inês Lobato, enfatiza a importância de um suporte psicológico e social durante a transição, já que a exclusão social é uma das maiores dificuldades enfrentadas por essas pessoas.
Capacitação e Inclusão Profissional
Para promover um atendimento livre de preconceitos, a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre tem investido em capacitações para profissionais de saúde. Um exemplo é o curso de Promotores de Saúde Integral LGBTQIA+, que já capacitou 120 agentes comunitários.
Lucas Vinicius, educador social, ressalta a importância de entender as realidades enfrentadas pela população LGBT+ para oferecer um atendimento mais humano e de qualidade. Ele acredita que, com uma formação adequada, os profissionais podem contribuir significativamente para a redução das barreiras de acesso aos serviços de saúde.
Por fim, a qualidade dos registros de identidade de gênero e orientação sexual nas Unidades de Saúde também é um ponto destacado. Uma coleta de dados mais precisa pode direcionar políticas públicas mais eficazes, ajudando a atender cada vez melhor as necessidades dessa população.
Assim, a oferta de serviços de saúde voltados para a comunidade LGBT+ no Rio Grande do Sul busca romper com estigmas e assegurar um atendimento respeitoso e inclusivo, fundamental para a promoção da identidade de gênero e saúde integral.