A sua empresa valoriza a saúde mental como benefício?

Nos últimos anos, a saúde mental se tornou um tema cada vez mais presente dentro das empresas. Muitas organizações têm promovido iniciativas, como postagens em redes sociais profissionais, campanhas internas e parcerias com startups. No entanto, com o crescimento dessas ações, surge uma questão importante: as empresas realmente veem a saúde mental como um aspecto essencial e estruturante, ou apenas como um benefício a ser oferecido?

Algumas empresas parecem tratar a oferta de terapia de forma superficial. Elas estabelecem parcerias com clínicas e plataformas de terapia apenas para ter um selo de “empresa que se preocupa”, sem efetivamente transformar a realidade de seus colaboradores. Muitas vezes, as iniciativas são pouco divulgadas, dificultando o acesso às pessoas que realmente precisam. Em diversos casos, há barreiras financeiras e operacionais que limitam o uso efetivo dos serviços disponíveis. Assim, elas comemoram baixos índices de participação como se fossem um sinal de sucesso. Essa abordagem, chamada de “mental health washing”, não é verdadeiramente um cuidado com a saúde mental.

A utilização de serviços de saúde mental é crucial. Quanto mais pessoas buscarem terapia, melhores serão os resultados para as empresas: a frequência ao trabalho aumenta, as equipes se tornam mais equilibradas e os ambientes de trabalho se tornam mais seguros e saudáveis. Contudo, muitas organizações optam por uma comunicação restrita sobre seus programas. Elas disponibilizam recursos, mas acabam colocando a responsabilidade apenas no colaborador. Isso significa que, mesmo oferecendo acesso, pouca gente se sente à vontade ou sabe como utilizar esses serviços.

Em um contexto econômico onde muitas pessoas recebem um salário mínimo, implementar coparticipação ou exigir que o colaborador pague pelos serviços de saúde mental é praticamente o mesmo que não oferecer nada. Isso retira a possibilidade de cuidado e coloca os colaboradores em uma situação complicada, onde precisam priorizar suas necessidades básicas.

Os números relacionados à saúde mental no ambiente de trabalho são alarmantes. Em 2024, mais de 472 mil pessoas se afastaram do trabalho por motivos relacionados a transtornos mentais, e a previsão é que esse número chegue a meio milhão até o final do ano. Além disso, o presenteísmo, que é quando o funcionário está fisicamente presente, mas não consegue produzir, taxa média de 31% nas empresas brasileiras, de acordo com dados recentes.

Esse cenário resulta em alta rotatividade de funcionários e elevação na sinistralidade dos planos de saúde, mas muitas empresas ainda veem a saúde mental como um adicional, e não como um elemento fundamental para a produtividade e sustentabilidade do negócio.

A saúde mental deve ser considerada parte integral da gestão de riscos e uma responsabilidade legal das empresas. É um pilar que deve estar presente nas práticas de governança corporativa e em projetos sociais. Além disso, é uma questão ética que deve ser levada a sério por todas as organizações.

Enquanto algumas empresas investem em recursos significativos e treinam líderes para lidar com a saúde mental de forma proativa, outras se contentam em oferecer um aplicativo que poucos usam. A questão que permanece é: sua empresa deseja apenas parecer que se preocupa, ou realmente está disposta a cuidar de seus colaboradores?