Arqueólogos descobrem vestígios de cerveja em jarras de 225 quilos

Jarras do Passado: A Descoberta que Mudou a História do Tejuino

Em 2008, o arqueólogo Rodrigo Esparza fez uma descoberta surpreendente perto das pirâmides circulares de Guachimontones, no México, que têm cerca de 2.000 anos. Ele encontrou diversos artefatos, mas não conseguiu identificar seu propósito na época. Depois de 12 anos de restauração e estudo, um dos itens revelou ser uma jarra de 500 anos, feita para a fermentação de uma bebida de milho. Essa jarra pesava impressionantes 200 quilos quando cheia, comparável ao peso do coração de uma baleia azul.

Inicialmente, Esparza e sua equipe pensaram que as jarras eram urnas funerárias. Quando começaram a escavar para construir um museu, encontraram muitos outros objetos: tigelas, estatuetas, joias, fornos e burials, além de seis grandes jarras. Eles escolheram aquele local porque achavam que não havia nada de importância arqueológica ali, mas estavam enganados.

Entre as descobertas, uma jarra quase intacta chamou a atenção, com três pés de altura e largura equivalente. No total, foram seis jarras desse tipo. Uma delas, encontrada em 350 fragmentos, passou por um processo longo de restauração que durou 12 anos. A especialista em cerâmica, Cecilia González, trabalhou com sua equipe para montar a jarra novamente. Quando finalmente a restauraram, veio a grande surpresa.

Esparza quase havia esquecido da jarra, mas ao receber a ligação de González, ficou surpreso ao descobrir que não era uma urna funerária, mas sim um recipiente para uma bebida fermentada à base de milho, conhecida como tejuino. Phil Weigand, que inicialmente descobriu Guachimontones, sugeriu que as jarras eram usadas para fermentar e armazenar essa bebida. Os interiores das jarras apresentavam sinais de degradação, provavelmente devido ao álcool, mas os testes eram necessários para confirmação.

Miguel Novillo, um aluno de Esparza, resolveu investigar as jarras para sua tese. Após análises químicas, confirmou a presença de carboidratos e amidos de milho, além de encontrar amido de batata doce. Esse ingrediente pode ter sido utilizado para acelerar o processo de fermentação devido ao seu alto conteúdo de açúcar. Outras análises mostraram que algumas jarras eram usadas diretamente sobre o fogo, enquanto outras serviam apenas para a fermentação ou armazenamento do produto final.

Esparza explicou que, embora possa parecer surpreendente, potes desse tamanho eram comuns na época. Era provável que muitas casas tivessem pelo menos duas ou três jarras como aquelas. Quando escavaram, encontraram as jarras normalmente quebradas, mas essa jarra específica estava em condições extraordinárias, com 85% de sua estrutura intacta.

Outra descoberta importante no local de 10 metros foi a variedade de fragmentos de diferentes períodos arqueológicos, do pré-clássico ao pós-clássico. Isso foi crucial, pois mostrou que a civilização Teuchitlán não desapareceu de forma abrupta, como se pensava anteriormente. O que se viu foi que o local tinha sido habitado continuamente por mais de 2.000 anos.

Infelizmente, a jarra estava em processo de transporte para o Centro Interpretativo de Guachimontones quando a pandemia de COVID-19 afetou o mundo. Esparza expressou esperança de que, quando a situação se normalizasse, as jarras pudessem ser exibidas no museu, com uma exposição sobre o tejuino e outras bebidas fermentadas do período pré-hispânico.

Estudos futuros provavelmente determinarão se o tejuino era consumido regularmente nas famílias ou reservado para festas e celebrações, conhecidas como “mitotes.” Hoje, a bebida continua disponível em várias regiões do México, como Jalisco e Chihuahua.

O tejuino é amado não apenas por seu sabor, mas também por suas propriedades saudáveis. Osmar Carmona, um fabricante de tejuino, produz uma versão não alcoólica, enquanto outros fermentam até alcançar um teor alcoólico de até cinco por cento. Ele destaca que o tejuino serve como uma alternativa saudável, semelhante a produtos como o Kombucha.

Carmona recomenda o consumo regular da bebida, argumentando que ela pode substituir bactérias patogênicas no cólon por probióticos, que são benéficos para a saúde intestinal. A descoberta das jarras de fermentação não só enriquece a história do tejuino, mas também enaltece a herança cultural de uma civilização vibrante e em contínuo desenvolvimento.

Esse fascinante capítulo da história nos lembra que, mesmo com o passar dos anos, as tradições e sabores de uma cultura podem resistir ao tempo, oferecendo uma conexão vital com o passado e um influente legado para as futuras gerações. O estudo do tejuino e das fermentações antigas é uma janela para entender melhor a vida cotidiana de civilizações que, muitas vezes, foram subestimadas.

Através de esforços arqueológicos, espera-se que aumente o conhecimento sobre essa antiga prática e como ela se entrelaça com a identidade cultural dos povos que habitaram a região. As jarras de Guachimontones são mais do que simples objetos; são testemunhas de um legado fértil que ainda influencia as tradições atuais, mostrando que a arte de fazer bebidas fermentadas é uma parte importante da cultura mexicana.