Principais Pontos
- O Ford F-150 Lightning não se tornou acessível para a maioria dos compradores de caminhões.
- A Ford vai enfrentar um prejuízo de US$ 19,5 bilhões, mostrando como a demanda por veículos elétricos foi superestimada.
- Caminhões híbridos e elétricos de extensão de alcance são agora uma alternativa mais segura na indústria.
O Caminho do F-150 Lightning e a Transformação da Ford
Em 2021, a Ford anunciou a eletrificação do seu caminhão mais vendido, o F-150. Na época, isso parecia um marco na indústria. O F-150 Lightning não era apenas mais um veículo elétrico; era uma mudança de paradigma. O objetivo era atender a contratantes, aventureiros e motoristas que nunca tinham pensado em um caminhão elétrico. Esse era o objetivo da empresa.
Mas, quatro anos depois, a Ford revelou que a produção do F-150 Lightning acabaria neste mês. Conforme declarou Andrew Frick, presidente da Ford Blue e Ford Model e, a montagem do modelo 2025 foi encerrada.
Por outro lado, o Lightning ainda não vai desaparecer. Ele vai voltar como um veículo elétrico de extensão de alcance (EREV), que é tipo um híbrido plug-in com gerador a gasolina no porta-malas. Esse modelo promete mais de 1.120 km de autonomia. A versão 100% elétrica, que deveria popularizar os caminhões elétricos, foi descontinuada.
O Custo da Estratégia Elétrica da Ford
Essa mudança de direção da Ford gera um custo alto. A empresa vai registrar um prejuízo de US$ 19,5 bilhões enquanto ajusta sua estratégia em relação aos elétricos. Isso inclui um desconto de US$ 8,5 bilhões em ativos relacionados a veículos elétricos. Além disso, a Ford cancelou seu caminhão elétrico de nova geração, o T3, e encerrou uma parceria de baterias com a SK On.
A questão dos preços já mostrava o problema desde o início. A Ford tinha anunciado um preço inicial de US$ 39.974 para o Lightning em 2021, dizendo que era acessível. Mas, na prática, esse modelo básico era principalmente para clientes de frotas. A maior parte dos consumidores pagava entre US$ 60.000 e US$ 90.000, preços que colocavam o Lightning no mesmo patamar dos F-150 a gasolina, que custavam entre US$ 10.000 e US$ 15.000 a menos.
Vendas e Desempenho do Lightning
As vendas do Lightning também não corresponderam às expectativas. A Ford havia projetado vender 150.000 unidades por ano, mas as entregas ficaram em cerca de 7.000 por trimestre nos últimos dois anos, chegando a quase 11.000 no último trimestre de 2024. Em novembro, as vendas da Ford de veículos elétricos caíram 61% em relação ao ano anterior, com apenas 4.247 veículos vendidos.
As consequências financeiras têm sido severas. A divisão Model e da Ford teve um prejuízo de US$ 5,1 bilhões em 2024, após uma perda de US$ 4,7 bilhões no ano anterior. Os custos das baterias permanecem mais altos do que o esperado, e a retirada do crédito fiscal federal de US$ 7.500, junto com a flexibilização das normas de emissões, reduziu os incentivos a continuar produzindo caminhões elétricos pouco rentáveis.
Impactos para Trabalhadores e Fábricas
Os trabalhadores do Rouge Electric Vehicle Center, em Michigan, agora estão sendo realocados para ajudar na produção dos F-150 a gasolina e híbridos. O Tennessee Electric Vehicle Center, que deveria fazer o próximo Lightning, agora vai produzir caminhões a gasolina a partir de 2029. Além disso, uma fábrica de baterias em Kentucky será convertida para produzir sistemas de armazenamento de energia estacionária, e não mais baterias para veículos.
A mudança da Ford não se limita apenas a um modelo. A empresa está fazendo uma aposta pesada em híbridos e veículos elétricos de extensão de alcance, visando que 50% de suas vendas globais até 2030 venham desses modelos, junto com os totalmente elétricos. Isso marca uma clara retirada das ambições de eletrificação pura que dominaram a indústria nos últimos anos.
A Indústria Automotiva em Nova Perspectiva
Outras montadoras também estão mudando seus planos. A Stellantis já abandonou a ideia de um Ram 1500 totalmente elétrico, optando por uma versão estendida. A chinesa BYD segue ganhando espaço em mercados onde custo e praticidade importam mais do que a tradição das marcas.
Mesmo a Tesla, que sempre foi vista como sinônimo de inovação em elétricos, está lidando com sua própria transformação. A empresa está se adaptando para se tornar uma mistura de montadora e empresa de inteligência artificial, mas descobrir que inovar é caro.
Conclusão: Lições da Transformação
Embora os executivos da Ford assegurem que a nova geração do Lightning ainda será revolucionária, a mensagem é clara. O caminhão que deveria eletrificar a América agora é um alerta. Depois de injetar centenas de bilhões em veículos elétricos, as montadoras estão se deparando com uma verdade mais difícil. A transição para elétricos não vai ser simples, barata ou rápida, como muitos acreditavam anteriormente.
Com tantas mudanças, o foco na conexão entre preço, acessibilidade e demandas do mercado pode ser o caminho para o futuro. Os consumidores estão atentos e a pressão para oferecer alternativas viáveis só tende a aumentar. A indústria automotiva é resiliente e continua se adaptando às novas realidades do mercado.