Heteroceticismo, boy sober e como se proteger da violência contra mulheres

Cada vez mais, mulheres estão decidindo não se relacionar com homens. Não se trata de ódio, mas de um cansaço profundo em arriscar suas vidas ao conhecer alguém novo.

Esse fenômeno é chamado de hétero-ceticismo. Nesse contexto, mulheres heterossexuais começam a questionar se vale a pena iniciar um relacionamento quando isso pode representar um grande risco. Além disso, existe o movimento “boy sober”, onde elas optam por não se envolver com homens por um tempo, buscando preservar sua saúde mental e seu bem-estar.

Parece exagero? Vamos ver alguns números.

No Brasil, uma mulher é assassinada a cada seis horas por conta da violência doméstica. A cada dois segundos, uma mulher sofre violência, seja física ou verbal. Em 70% dos casos de feminicídio, o agressor é um parceiro ou ex-parceiro. Isso mesmo: a pessoa que deveria te amar é a que tem mais chances de te matar.

Quando uma mulher inicia um relacionamento heterossexual, ela assume um risco enorme. Ela pode encontrar um parceiro atencioso ou um homem abusivo, mas não tem como saber antes de se envolver.

Um homem agressivo não se apresenta como tal. Ele é gentil e apaixonado no início. Depois de conquistar a confiança da mulher, ele começa a mostrar seu verdadeiro lado. Primeiro vem o ciúme, que parece fofo. Depois, ele começa a controlar suas ações, com quem fala e até que roupas usa.

Então, ele passa a desvalorizar a mulher, fazendo-a acreditar que não vale nada e que ninguém mais a quer. O controle aumenta, e ela acaba se afastando de amigos e família. Quando ela já está sozinha e dependente, ele começa a usar a violência. Um empurrão aqui, um tapa ali e, eventualmente, a situação pode culminar em feminicídio.

O feminicídio é um crime motivado pelo ódio às mulheres. É o sentimento de posse que muitos homens têm. Quando ela tenta se libertar ou diz não, a tragédia pode acontecer. Para ele, se ela não é dele, não pode ser de mais ninguém.

A misoginia está presente em todos os lugares. No homem que acredita que a mulher deve servir, no cara que acha que pode forçar sexo, e até no pai que ensina o filho que homem não chora, mas não mostra respeito pelas mulheres.

Estamos ainda diante de uma sociedade que questiona o que a mulher estava fazendo em certos lugares ou que roupa estava usando. Isso se reflete na polícia que, muitas vezes, não registra ocorrências ou que solta agressores. E temos a famosa frase: “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Essa frase desestimula a interferência de outros.

Além disso, há muitas mulheres cansadas. Elas estão exaustas de viver com medo, de calcular riscos a cada novo encontro. Estão cansadas de ensinar homens a ter empatia e a controlar suas emoções sem agredir.

Por isso, o hétero-ceticismo faz sentido. Estar sozinha traz paz, segurança e permite a essas mulheres existirem sem pressão. O movimento boy sober prega um momento sem homens, focando em si mesmas. Muitas que adotam essa filosofia relatam benefícios como clareza mental, autoestima recuperada, mais tempo e energia.

Um relacionamento com homens pode trazer altos custos emocionais e financeiros para as mulheres. Elas acabam carregando a carga mental, cuidando da casa e, muitas vezes, atuando como mães para seus parceiros, perdendo a própria identidade.

Além disso, em muitos casos, elas ainda enfrentam a violência.

Se você está em uma relação violenta ou conhece alguém nessa situação, é importante saber que a violência não se resume a agressões físicas. Ela também pode ser psicológica, patrimonial, sexual ou moral. Se essa é a sua realidade, saiba que você não provocou nada e não merece ser maltratada.

Saiba que há formas de buscar ajuda. A Central de Atendimento à Mulher (número 180) funciona 24 horas e oferece orientação sobre como agir e denunciar. Se precisar de proteção imediata, ligue para a polícia (190).

Você pode também ir a uma Delegacia da Mulher para fazer um boletim de ocorrência, levando provas do que ocorreu, se houver. Isso ajudará em pedidos de medidas protetivas que podem afastar o agressor da sua vida.

Casas abrigo estão disponíveis para mulheres em risco. O acesso acontece através de delegacias ou centros de assistência social que oferecem apoio psicológico e jurídico.

Terapia é uma ferramenta essencial. A violência traz marcas profundas, e profissionais podem ajudar a processar experiências e reconstruir a autoestima. Conte para pessoas de confiança, pois o silêncio nutre a violência.

É importante ter um plano de fuga. Separe documentos essenciais e mantenha tudo guardado em um lugar seguro. Tente ter um celular extra e organize uma mala.

Se você conhece uma mulher em situação de violência, é fundamental oferecer apoio, sem julgamentos. Não questione suas decisões. O caminho para a liberdade é difícil e cheio de desafios. Mostrar compreensão e oferecer ajuda pode fazer a diferença.

Quantas vezes já se discutiu que educar meninos sobre respeito e igualdade é essencial? Ensinar que violência, controle e agressão não são aceitáveis deve ser prioridade. E quando um homem ouvir piadas machistas ou perceber comportamentos abusivos, é importante que ele se manifeste contra isso.

Devemos exigir políticas públicas eficazes, como delegacias da mulher funcionando 24 horas, abrigos adequados e punições reais para agressores.

Cada mulher precisa entender que sua vida vale mais que qualquer relacionamento. Ser tratada com respeito é um direito. E, enquanto a sociedade não mudar, muitas preferirão sua segurança a qualquer relação.

O hétero-ceticismo e o boy sober refletem o descontentamento de mulheres que estão cansadas. Elas optam pela solidão antes de viver em situações abusivas.

Por que arriscar a vida em um relacionamento que pode ser tóxico? A resposta para muitas mulheres é clara: não vale a pena.

Se precisar de ajuda, ligue para o número 180. E se estiver em perigo imediato, ligue 190. Lembre-se: sua vida é o que realmente importa.