Indonésia está moldando o futuro do cinema?

A indústria cinematográfica da Indonésia está passando por uma transformação significativa. Enquanto Hollywood enfrenta orçamentos altos e atrasos, os cineastas de Jacarta estão criando filmes visualmente impressionantes com orçamentos bem menores. O segredo não está em estúdios grandiosos, mas no uso de inteligência artificial para maximizar a criatividade e economizar tempo.

Nas comunidades criativas de Jacarta, equipes estão usando ferramentas como Sora 2, Runway, Midjourney e ChatGPT. Esses aplicativos ajudam a planejar cenas, gerar efeitos especiais, editar imagens e aprimorar roteiros. Os editores de efeitos visuais, por exemplo, notaram que o processo de rotoscopia, que costumava levar semanas, agora pode ser feito em segundos. Os primeiros rascunhos estão sendo finalizados cerca de 70% mais rápido do que antes.

Essa mudança começou por necessidade. Cineastas independentes, com orçamentos restritos, precisavam de formas de competir com as grandes plataformas de streaming. A experimentação com a inteligência artificial se transformou de uma tática de sobrevivência em uma vantagem criativa. Atualmente, a Associação de Produtores de Cinema da Indonésia apoia a produção assistida por IA. O presidente, Agung Sentausa, afirmou que isso permite criar “filmes que têm qualidade Hollywoodiana com orçamentos menores”.

Um filme de médio porte na Indonésia custa em média 10 bilhões de rupias (cerca de 600 mil dólares). Na verdade, em Hollywood, isso mal cobriria o custo do buffet em um grande set, onde orçamentos de blockbusters podem ultrapassar 200 milhões de dólares. Assim, um filme indonésio é produzido por menos de 1% do custo de uma produção típica de estúdio.

O que chama mais atenção é que o público está começando a perceber que a diferença visual entre filmes indonésios e ocidentais está diminuindo. Projetos como “Nusantara”, que usou IA para recriar batalhas javanesas do século XIV, custaram menos de 1 milhão de dólares. A comparação de seus visuais se deu com “The Witcher”, demonstrando que um grande espetáculo não é mais exclusividade de orçamentos astronômicos. Esse filme atraiu atenção em festivais de cinema, ajudando a destacar o papel crescente da Indonésia no cinema assistido por IA.

A Bali International AI Film Festival teve 25 inscrições em seu primeiro ano e 86 no segundo. Esse crescimento reflete a indústria abraçando a tecnologia não apenas como uma novidade, mas como um padrão de produção. As principais escolas de cinema da Indonésia também começaram a oferecer cursos de cinematografia assistida por IA e narrativa sintética, preparando a nova geração de cineastas para lidarem com essas inovações.

Apesar de ajudar a poupar e aumentar a eficiência, a inteligência artificial traz algumas desvantagens. À medida que ferramentas de IA assumem a edição e a criação de conteúdo, muitas funções tradicionais na produção cinematográfica estão sendo alteradas ou eliminadas. Artistas de storyboard agora usam geradores de imagens para desenhar personagens e cenários. Embora os resultados possam ser interessantes, algumas vezes oferecem uma sensação distorcida.

Engenheiros de som e dubladores estão sendo substituídos por ferramentas que imitam tom e ritmo. Em Jacarta, especialistas em efeitos visuais comentam que a IA cuida da maior parte do trabalho inicial, enquanto as equipes humanas se encarregam do polimento final. É tudo mais rápido, mas também gera inquietação. Muitos se preocupam que essa dependência de algoritmos possa uniformizar a criatividade e reduzir as oportunidades para novos artistas.

Ademais, surge a questão da originalidade. Quando estilos visuais e roteiros são moldados por conjuntos de dados em vez de experiências de vida, quanto do que vemos ainda é humano? Um cineasta apontou que “a IA pode nos ajudar a acelerar, mas não entende por que a história é importante”. A tensão entre custos menores e redefinição da indústria é palpável. A IA não está apenas diminuindo despesas; está transformando quem pode se chamar de cineasta.

As repercussões disso vão além da Indonésia. Se a inteligência artificial continuar a reduzir custos na narrativa visual, o mapa do cinema pode mudar. A dominância de Hollywood sempre dependeu de orçamentos elevados, infraestrutura avançada e distribuição global. Mas, se Jacarta pode produzir filmes dignos de Hollywood por uma fração do preço, essa balança começa a se inverter.

Assim como a câmera e a sala de edição foram essenciais em sua época, a IA está se tornando uma parte fundamental da criação cinematográfica. Países que adotarem essa tecnologia cedo poderão formar a próxima geração de linguagem cinematográfica. Enquanto isso, indústrias como Nollywood, na Nigéria, os estúdios de streaming da Índia e as casas de produção digital da Coreia do Sul estão experimentando métodos similares. Todos eles compartilham vantagens como orçamentos menores, adaptação rápida e menos barreiras para novas ideias.

Essas inovações estão demonstrando que o futuro do cinema não depende mais da geografia ou do tamanho do orçamento. Os cineastas indonésios não estão rejeitando a estética de Hollywood, mas a reinterpretando. Seus filmes ainda se baseiam em emoção, narrativa e cultura, enquanto provam que a tecnologia pode multiplicar a criatividade sem esvaziá-la.

Num futuro próximo, o próximo grande sucesso global pode não vir de Los Angeles ou Londres, mas de Jacarta. A história pode ser construída sobre mitos locais, sendo impulsionada por AI e transmitida para o mundo. Em resumo, na nova economia cinematográfica indonésia, o verdadeiro efeito especial não é o que aparece na tela, mas o que se passa nos bastidores. O cenário está mudando, e todos devemos prestar atenção.