Netflix se posiciona sobre série criticada por Trump

A Netflix anunciou o cancelamento da série “Boots” após a exibição de sua primeira temporada. A decisão chamou a atenção, uma vez que a produção, que aborda temas LGBTQIA+ dentro do contexto militar dos Estados Unidos, recebeu críticas positivas de especialistas e entrou em listas de melhores do ano. Apesar de seu acolhimento, a série foi desqualificada pelo Departamento de Defesa dos EUA, que a chamou de “lixo woke”.

“Boots” é uma comédia dramática criada por Andy Parker e inspirada no livro “The Pink Marine”, de Greg Cope White. A trama acompanha Cameron Cope, interpretado por Miles Heizer, um jovem gay que se alista no Corpo de Fuzileiros Navais ao lado de seu melhor amigo heterosexual, Ray McAffey, interpretado por Liam Oh. Com cenário nos anos 1990, quando a homossexualidade era ilegal nas Forças Armadas, a série retrata os desafios e descobertas pessoais dos personagens durante o rigoroso treinamento militar. O elenco também conta com Vera Farmiga, Max Parker, Cedrick Cooper, Ana Ayora e Nicholas Logan.

O lançamento da série coincidiu com um clima político tenso nos Estados Unidos, e logo após a estreia, o Pentágono criticou a produção. A secretária de imprensa do departamento, Kingsley Wilson, emitiu um comunicado que questionava a fidelidade da série aos valores militares sob a administração atual. Ela declarou que a produção não condizia com a visão das Forças Armadas e acusou a Netflix de ceder a pressões ideológicas.

Em resposta, Wilson enfatizou que, sob a liderança de Donald Trump, as Forças Armadas estavam “restaurando o espírito guerreiro”, e que os padrões do exército deveriam ser neutros, sem considerar a orientação sexual dos integrantes. Sua crítica se estendeu à programação da Netflix, que, segundo ela, estaria alimentando o público com conteúdo que não refletia esses valores.

Apesar das opiniões negativas do governo, “Boots” teve um início promissor, registrando 9,4 milhões de visualizações na primeira semana completa após o lançamento, um número que mais que dobrou em relação à estreia. A série obteve uma aprovação de 90% no Rotten Tomatoes e manteve-se por quatro semanas entre os dez títulos mais assistidos na plataforma.

A decisão de cancelar a série não foi fácil para a Netflix. Mesmo com a boa recepção, executivos da plataforma tentaram defender o projeto e mantiveram diálogos com a Sony Pictures Television, responsável pela produção, enquanto analisavam os dados de audiência a longo prazo. Para tentar garantir a renovação, a Sony estendeu os contratos de alguns membros do elenco principal, mas, no fim, a decisão final foi tomada pela alta cúpula da Netflix. As cláusulas de exclusividade também limitaram as opções de levar a série para outras plataformas, caso a Netflix decidisse não continuar com ela.