A inteligência artificial (IA) já está mudando a forma como os serviços de saúde são prestados em vários países da Europa. Essa tecnologia ajuda na detecção de doenças, na redução de tarefas administrativas e melhora a comunicação com os pacientes. No entanto, um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que essa transformação está acontecendo de forma rápida, mas sem a proteção necessária para pacientes e profissionais da saúde.
### Desigualdade na Preparação
Embora muitos países europeus reconheçam o potencial da IA para melhorar os atendimentos, a preparação para sua implementação é desigual. Apenas quatro países (8% do total) possuem uma estratégia nacional específica para o uso de IA na saúde, enquanto outros sete estão em processo de desenvolvimento de suas estratégias.
A Dra. Natasha Azzopardi-Muscat, que trabalha na OMS, observou que a IA pode beneficiar a saúde e o bem-estar das pessoas, aliviando a carga dos profissionais de saúde, que muitas vezes estão sobrecarregados. Contudo, ela também alertou sobre os riscos à segurança e privacidade dos pacientes, além do risco de acentuar desigualdades no acesso aos cuidados.
Alguns países estão saindo na frente. A Estônia, por exemplo, criou uma plataforma que integra dados de saúde e seguros, facilitando o uso de ferramentas de IA. A Finlândia investiu na formação de profissionais para trabalhar com IA, e a Espanha está em fase de testes com a IA para detectar doenças precocemente.
### Obstáculos Legais à Adoção
A regulamentação ainda não acompanha o avanço da tecnologia. Quase 86% dos países entrevistados no relatório mencionaram a incerteza jurídica como um dos principais obstáculos à adoção da IA. Além disso, 78% citaram restrições financeiras como um impedimento. Atualmente, menos de 10% dos países têm normas claras sobre responsabilidade em casos de erro de sistemas de IA, o que causa insegurança tanto para médicos quanto para pacientes.
O Dr. David Novillo Ortiz, conselheiro regional sobre dados e IA, ressaltou que a falta de normas claras pode fazer com que médicos hesitem em confiar nas ferramentas de IA, enquanto pacientes não têm um caminho definido para buscar reparação em caso de problemas.
### Financiamento e Prioridades
Embora o uso de IA em saúde já seja expressivo — com 64% dos países utilizando diagnósticos assistidos e 50% usando chatbots para suporte a pacientes —, apenas uma em cada quatro nações conseguiu destinar recursos financeiros suficientes para implementar essas tecnologias. As principais motivações para usar a IA incluem melhorar o atendimento ao paciente (98%), reduzir a pressão sobre os profissionais (92%) e aumentar a eficiência (90%).
### Preocupações dos Pacientes
A população também expressa preocupações relacionadas à segurança e ao acesso igualitário aos cuidados de saúde. As pessoas esperam que profissionais de saúde assumam a responsabilidade por erros que possam ocorrer, mas a natureza da IA, que depende de dados, pode levar a diagnósticos errôneos se as informações forem incompletas ou preconceituosas.
O relatório da OMS recomenda que os países desenvolvam estratégias que considerem os objetivos de saúde pública, estabeleçam proteções legais e éticas, preparem os profissionais para o uso da tecnologia e garantam a transparência nas informações ao público.
O Dr. Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS, finaliza dizendo que, embora a IA tenha o potencial de revolucionar os cuidados de saúde, esse futuro só será alcançado se pacientes e cidadãos forem sempre prioridade nas decisões relacionadas ao seu uso.