Lembranças de Ricardo Benevides Marques: Uma Trajetória de Vida e Fé
No dia 12 de dezembro de 2025, faleceu o professor Ricardo Benevides Marques, após uma luta de dois anos contra o câncer. Ricardo era uma pessoa admirável em muitos sentidos. Ele era um pai carinhoso, um esposo dedicado, um cristão comprometido e um amigo fiel. Seu trabalho como biólogo, paleontólogo e terapeuta, entre outras atividades, fez dele um verdadeiro polímata, alguém com uma vastidão de conhecimentos.
Ricardo não se limitava apenas ao meio acadêmico. Ele era também palestrante, escritor, empreendedor e contador de histórias. Conhecia muitas pessoas e era reconhecido por milhares. Uma das suas características mais marcantes era a empatia. Ele conseguia se conectar com os erros e acertos das pessoas com grande compreensão, sem julgamentos. Quando recebia elogios por suas palestras, logo dirigia a atenção para o talento dos outros, sempre com um sorriso generoso. Sua humildade era um aspecto que o diferenciava de muitos acadêmicos que buscam destaque individualmente.
Minha primeira interação com Ricardo aconteceu em 2014, durante o 1º Congresso de Design Inteligente, onde ele foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Design Inteligente. Sua palestra sobre mimetismo e camuflagem foi fascinante e cheia de insights. Fiquei tão impressionado que pensei: “Preciso conhecê-lo pessoalmente”. Ele já tinha certo reconhecimento nas discussões sobre fé e ciência, e muitos o tratavam familiarmente. Logo, fui apresentado a ele, que, antes que eu falasse sobre minha própria palestra, começou a tecer elogios à minha apresentação, mesmo eu achando que sua palestra era muito mais interessante.
Anos depois, nos reencontramos no 2º TDI-Brasil. Para minha surpresa, Ricardo ainda se lembrava de mim, e uma bela amizade surgiu entre nós. Em ocasiões seguintes, palestramos juntos e lutamos pela divulgação da teoria do design inteligente no Brasil. Ele me incentivou a escrever o projeto da 1ª Turma de Especialização Lato Sensu em Teoria do Design Inteligente, que foi aprovado pelo MEC, um feito sem precedentes. Esse foi um legado precioso que tributo a ele.
Em 2024, eu fui diagnosticado com um câncer no estômago. Liguei para contar a Ricardo sobre minha situação, sabendo que ele também enfrentava sua luta contra a doença. Esperava conselhos sobre tratamento e resiliência, mas ele apenas me fez algumas perguntas sobre o tumor e logo mudou o rumo da conversa. Queria saber como eu estava me sentindo em relação à minha família e aos desafios que enfrentava. Ele percebeu que minha dor ia além do físico. Essa conversa me trouxe um alívio inesperado.
Em fevereiro de 2025, nos reencontramos em Campina Grande. Minha cirurgia estava próxima e as incertezas me deixavam inquieto. Ricardo, por sua vez, lidava com uma recidiva do câncer e sabia que seu prognóstico não era bom. Era um contraste curioso: eu, preocupado com um câncer operável; ele, em paz com um diagnóstico terminal. Palestramos por três dias juntos, com a consciência de que qualquer um de nós poderia ser chamado a qualquer momento.
Três meses depois, nos encontramos novamente em Fortaleza, durante o congresso da Comunhão Universitária Evangélica. Ricardo estava mais magro e cansado, mas ainda assim palestrou com entusiasmo. Ele sempre foi gentil e atencioso, mesmo lidando com as dores que sentia. Junto de sua esposa, Ana Carmem, ele compartilhou o que estava passando e, ainda assim, conseguimos nos alegrar juntos com as bênçãos em nossas vidas.
Em julho de 2025, nos encontramos em São Paulo, no 6º Congresso da Sociedade Brasileira de Design Inteligente. Foi um evento memorável. Jantamos juntos, conversamos e tiramos fotos. Apresentei Ricardo à minha filha caçula, Naomi. Ao final, ela me perguntou se acreditava que o veria novamente. Respondi sinceramente que não, pois sentia que só o veria novamente na glória. No último dia, abracei Ricardo, fazendo uma oração silenciosa a Deus, pedindo alívio para suas dores. Alguns meses depois, Deus atendeu a esse pedido, levando Ricardo para junto Dele.
A proximidade da morte pode levar muitos a pararem suas atividades e refletirem sobre a vida. No entanto, Ricardo se manteve ativo. Nos últimos meses, enfrentando dores intensas, ele continuou sua trajetória: palestrou, participou de debates, deu entrevistas, escreveu reflexões e esteve presente para sua família e amigos. Ele havia se tornado um exemplo de generosidade e dedicação, sempre se doando aos outros.
A vida de Ricardo é difícil de resumir. Ele fez descobertas arqueológicas no Nordeste do Brasil, ensinou biologia a muitas gerações, fundou o Instituto Kenosis e o Laboratório de Estudo e Tratamento da Mente, do Cérebro e do Comportamento. Era conhecido no diálogo entre fé e ciência, sendo respeitado como um especialista na área. Em termos de realizações, amigos e influência, ele deixou um legado que não será facilmente esquecido.
Quando penso em Ricardo, não consigo defini-lo apenas por suas conquistas. Como biólogo, talvez ele sorri-se de minha definição: “Ricardo Marques era humano!” Ele tinha uma humanidade sincera, cheia de compaixão e empatia, algo raro nos dias de hoje. E com certeza, ele responderia com gentileza, dizendo: “Você é que é humano, um exemplo para todos nós.”
Em homenagem a Ricardo, deixo algumas palavras que ressoam a sua essência. Em seus momentos finais, outro doutor, o irmão Wakely, disse que não estava realmente morto, mas sim mais vivo do que nunca, aguardando um reencontro eterno. Assim, espero que um dia possamos nos encontrar novamente, na presença de Deus, onde cantaremos juntos uma canção eterna.
Ricardo foi, acima de tudo, um exemplo de humanidade e fé, e seu legado estará sempre em nossos corações.